Oh 2018! O que tem para nos oferecer?

Em termos cinematográficos, 2018 não parece um ano muito promissor — no meu ponto de vista, claro — pois tudo indica que será um ano morno (com base nos projetos já anunciados). Infelizes como bem sabemos que somos, muitos filmes não devem chegar ao nosso circuito, então digo em relação e unicamente a ele. ‘Pantera Negra está em cartaz‘, eu não poderia ligar menos. ‘Deadpool 2 vem aí‘, impossível um desinteresse maior do que o meu… Então o que me resta?

Na verdade, o circuito americano, pelo menos aqueles filmes da qual tenho acesso na cidade onde vivo, já não me agradam à muito tempo (com poucas exceções). Comprar DVDs e Blu-rays já se tornou muito mais do que um simples hobbie, e sem medo de ser feliz, baixar aquele mkv 1080p de 8Gb ou 20Gb para acompanhar os filmes não lançados por aqui é uma rotina. Afinal, não é pirataria, pois não se tem o que piratear. E afinal, a própria imprensa especializada utiliza meios alternativos para se ter acesso à filmes e séries, afinal, como acham que se foram feitas reviews de The Handmaid’s Tale por exemplo?

Se lançarem em home video, comprarei, se exibirem, lá estarei eu. Como foi o caso de Invasão Zumbi (título sofrível para Train to Busan) que chegou a ser exibido por aqui. Se pudesse, levaria até meu cachorro para a sala, e pagaria o ingresso de bom grado para dar o meu suporte à filmes Coreanos (e de outras nacionalidades da Ásia ou Europa em geral) nas salas brasileiras.

Apesar do desinteresse pelo circuito americano, assisti 90% de todos filmes indicados ao Oscar (essa foi minha programação de carnaval). Filmes de fraco para péssimos. Isso só reforça o meu pensamento de que essa premiação é uma besteira sem sentido. Ainda assim, lá estarei eu, no dia 4 de março, sintonizado na TNT, vendo a cobertura completa e claro, a entrega das estatuetas. Quem sabe não rola uma gafe nova esse ano? E quem sabe não seja um nojo extremo como foi o Globo de Ouro, com aquela tal de #TimesUp. Não se enganem, eu não sou contra a causa, mas sim com a infestação excessiva do tema na premiação e dos longos discursos (Fora Oprah). Afinal, isso é um evento de premiação cinematográfica, então mantenham a campanha lá no tapete.

Até o momento em que escrevo, já se somaram 86 filmes visto nesse ano, um número relativamente alto se levarmos em conta que ainda estamos em fevereiro. São filmes italianos maravilhosos de Visconti, russos do incrível Tarkóvski ou Japoneses de Ozu. Não importa a nacionalidade, cinema bom existe em todo canto do mundo.

Minhas atenções finalmente se voltaram para lançamentos (tirando os do Oscar, estava vendo apenas filmes clássicos), e finalmente assisti um dos filmes mais esperados de 2017, que só vim ter acesso agora, em janeiro de 2018 (por que será?), com legendas em inglês — Deus abençoe Final Fantasy e Metal Gear Solid por ter me ensinado inglês na adolescência — o filme em questão é V.I.P. de Park Hoon-Jung, que dirigiu o ótimo ‘Novo Mundo’ em 2013. Estava particularmente ansioso para ver Jang Dong-gun em tela, gosto do cara em tela. O resultado não poderia ter sido mais decepcionante, enredo plastificado, bagunçado. Um filme que começa realista, e que se perde em devaneios, parecendo uma fábula criminal dividida em capítulos. Salvo apenas algumas sequência de ação muito bem conduzidas por Hoon-Jung. Minha consciência diz que a nota final é 2/5, a decepção foi tão grande que desisti de escrever mais aprofundadamente sobre o filme, uma lástima.

Ainda me restam mais lançamentos de 2017 para ver. Chasing the Dragon é o próximo, Donnie Yen é quase um Guilty Pleasure. Battleship Island, só de ter Hwang Jung-min no elenco, no mínimo já atiça minha curiosidade. A ficção de Lee Sa-rang “Real” e estou no aguardo do capítulo final da saga Yakuza de Takeshi Kitano: ‘Outrage Coda’.
Todos são de 2017, pendentes na minha watchlist. Agora é mediar o tempo, entre a leitura, o trabalho, os estudos e a sétima arte.

Estive pensando em iniciar outro blog, para filmes (e outras coisas) do mundo a fora. Já que não quero descaracterizar esse espaço para o conteúdo asiático. Assim poderei saciar o meu desejo de falar sobre Luchino Visconti, Andrei Tarkóvski. Mizoguchi e Ozu falarei por aqui mesmo, sem medo de os misturar com meus violentos Guilty Pleasures.

Olhando para frente, ainda não me encantei com nenhum futuro lançamento, talvez esteja muito no início para acusar 2018 de ser um ano fraco. Ainda estamos no mês 2 mas olhando para os próximos 4 meses, que já tem muitos e muitos títulos anunciados, a expectativa é nula. O bom é que sobra mais tempo para revisitar e conhecer novos clássicos do cinema do mundo a fora.

Crítica: Oldboy (2003) de Park Chan-wook

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vingança
substantivo feminino
  1. 1.
    ato lesivo, praticado em nome próprio ou alheio, por alguém que foi real ou presumidamente ofendido ou lesado, em represália contra aquele que é ou seria o causador desse dano;
  2. 2.
    qualquer coisa que castiga; castigo, pena, punição.

 

Ria e o mundo rirá com você, chore e você chorará sozinho.’ Essa é apenas uma das muitas camadas agregadas n’A tragédia de Oh Dae-su (Choi Min-sik em grande atuação). A primeira vez que nos encontramos com ele, é em meio à muita confusão, em uma delegacia, preso por bebedeira. Um homem comum, famoso por cobiçar mulheres alheias, inconsequente por sua própria natureza. A vergonha alheia daqueles que o assistem se chocam com o humor dos cortes de uma situação absurda para outra. É da natureza humana rir de situações constrangedoras, quando essas não nos enquadram — também é da nossa natureza sentir pena daqueles que sofrem nas mãos dos opressores.

Quando essa situação se resolve, encontramos Oh Dae-su preso em um quarto, sozinho, indignado com a situação em que se encontra. Trancafiado sem saber o motivo, sem saber por quem, são momentos iniciais angustiantes. Desde então acompanhamos sua jornada entre quatro paredes, suas loucuras, reflexões e ambições. No canto, uma TV, essa seria sua professora, seu guia, sua informante e sua amante.

‘Se eu soubesse que teriam sido 15 anos, teria sido mais fácil?’

O exílio forma a autoavaliação, e subsequentemente, a paranoia. O Óxido nitroso vem por debaixo da porta, Oh Dae-su cai em um sono profundo, ao acordar, suas roupas foram trocadas, seu cabelo cortado, seu DNA extraído e seus ferimentos tratados. Não se preocupe, você não está aqui para morrer, essa é a mensagem que vem de fora. Na solidão da noite, é hora de cavar, a fuga é uma razão para se viver.

Através da sua informante, notícias do mundo exterior, sua esposa foi morta, vestígios de seu DNA encontrado na cena do crime, longe de sua realidade, agora é um criminoso procurado pelas autoridades. É hora de planejar a vingança!

Depois de 15 anos, com a mesma naturalidade de seu encarceramento, Oh Dae-su é solto. Não existe mais um lar para se retornar, agora nos resta acompanha-lo em sua jornada para descobrir o motivo, e consumar sua vingança contra o(s) indivíduo(s), isso é tudo que o restou, é para isso que treinou seu corpo e sua mente.

Agora um novo homem, deslocado nesse novo mundo, composto por novas gírias e com muitos novos detalhes para se admirar. Será que 15 anos de shadow boxing podem ser colocados em prática?

Em um restaurante, Dae-su ordena um polvo vivo, consumir uma vida o faria se sentir mais vivo, talvez parte de sua alma tenha se extinguido, se apagado naquele quarto, sua prisão. Na chef do restaurante encontra-se uma aliada, um conforto, sua informante (a TV) o ensinou que ela era uma importante chef de cozinha da região, seu nome é Mi-do (Kang Hye-jeong).

Juntos eles partem atrás de respostas, um longo caminho tortuoso, cheio de becos sem saídas. Quanto mais perto da verdade se chega, mais violento seu caminho se torna. São confrontos com câmeras precisas, com plano sequência e com muito realismo. A cinematografia esverdeada de Chung Chung-hoon (A Criada) é um espelho para a realidade percorrida pelo personagem, poucas vezes essa paleta é alterada, apenas durante momentos de respostas, flashbacks, lembranças de um passado distante.

Em seu clímax, Choi Min-sik é brilhante! Park Chan-wook segura a revelação final até o último segundo, sugando nossas expectativas. Uma obra de difícil análise, sem adiantar elementos importantes, quanto menos souber sobre o enredo, mais delicioso esse prato frio será digerido.

Uma tragédia grega, sem os deuses, mas com a seriedade. A fantasia ainda está lá, em seus detalhes, ou em sua arquitetura, como na sequência do corredor (ou do martelo), filmado em plano sequência, onde o diretor distorce o local em prol da circunstância.

Quando se sentar para acompanhar A Tragédia de Oh Dae-su tenha sempre em mente que: quer seja um grão de areia ou pedra, na água ambos afundam igualmente. 

O longa é baseado no mangá de mesmo nome, escrito por Garon Tsuchiya e ilustrada por Nobuaki Minegishi. É o quinto registro da grande carreira do cineasta sul coreano Park Chan-wook e o segundo da trilogia da vingança (Mr. Vingança e Lady Vingança são os demais). Vencedor do Grand Prix na edição de 2004 do Festival de Cannes. É também um dos filmes responsáveis por colocar o cinema sul coreano no mapa!

XX

Avaliação: ★★★★★ (Ótimo)
Duração: 2 hr (120 min)
Idioma: Coreano
Atores: Choi Min-sik, Yu Ji-tae, Kang Hye-jeong
Diretor: Park Chan-wook

 

Obs.: passe longe do remake americano!