Street Mobster (1972) de Kinji Fukasaku


Dirigido pelo mestre da violência estética Kinji Fukasaku, Street Mobster é um filme de 1968 que marca uma das colaborações entre o ator Bunta Sugawara e o diretor, parceria que viria a ser reprisada inúmeras vezes, tendo seu ápice já no ano seguinte com o início da saga “Os Documentos da Yakuza”, um dos grandes marcos não só do Cinema Yakuza, mas do Cinema Japonês em geral.

Street Mobster é um daqueles filmes do chamado Jitsuroku eiga , que diferente do Ninkyo eiga, retratava a Yakuza no Japão pós-guerra, não como gangster glamorosos que seguiam o Bushido (código de honra do samurai) mas como gangster sem regras, sem limites, que viviam nos subúrbios e perseguiam o seu próprio desejo.

O filme já começa nos mostrando de perto muitas das atrocidades cometidas por um grupo de gangsters rebeldes que fazem uso da violência no seu dia a dia de forma trivial, inclusive a câmera de Fukasaku é essencial para nos jogar direto na ação. Fukasaku tem um jeito bem autoral de filmar, em forma de documentário, com ângulos diferenciados do tradicional.

Bunta Sugawara parece ter nascido para os papeis de gangsters de baixo nível, tanto que o ator reprisou personagens semelhantes inúmeras vezes em sua carreira, mas o destaque de Street Mobster fica com Noboru Andô. Se Bunta nasceu para ser o gangster low level, Noboru nasceu para ser o gangster glamoroso dos anos 70!
O ator possui uma presença invejável, é só ele passar pela porta, que o ator rouba toda a cena. Talvez toda a presença de gangster, se deva ao fato de que Noburo foi um Yakuza na vida real, muito antes de ser um ator!

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Dois anos depois, em 1974, Noboru Andô viria reprisar o papel de BOSS, em um trabalho que também reuniria Bunta Sugawara, o filme em questão é Violent Streets (também conhecido como Violent City), dirigido por um dos melhores diretores de samurai, e um dos meus diretores favoritos: O mestre Hideo Gosha!

A violência em Violent Mobster é tão marcante quanto em outros grandes trabalhos de Fukasaku, talvez um dos diretores mais violentos do Cinema Yakuza.
A sinopse, sem adiantar muito, é a seguinte: Isamu Okita (Bunta Sugawara), um punk de baixo nível, se une à outros gangsters de rua para tomar um território pequeno, para chamar de seu. Porém as coisas saem do controle e entre a vida e a morte, Isamu se vê sem escolhas, a não ser entrar para a gangue de Yato (Noboru Andô), um respeitado chefe local da Yakuza. O filme ainda conta com muitos outros personagens, mas como é uma obra curtinha, de apenas uma hora e meia, não quero adiantar muito os outros personagens para não estragar a experiência.

Se você nunca viu um filme da Yakuza, talvez Street Mobster não seja a melhor porta de entrada, uma vez que esse Jitsuroku eiga é extremo em vários níveis. Como estamos falando de Kinji Fukasaku, não preciso frisar que o filme é ultra violento. A paleta de cores não diferencia muito dos outros trabalhos do diretor, e a história contém um desfecho satisfatório, de acordo com a mensagem que o filme quer lhe passar.

Todo o ódio de Isamu talvez seja incompreensível para algumas pessoas, afinal o filme já nos joga em meio à toda essa confusão mas para aqueles por dentro do contexto histórico do Japão na época em que o filme se passa, todo esse ódio será compreendido.
Por tanto, uma rápida pesquisa para se situar será muito bem vinda.

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Street Mobster
é doentio, violento e muito bem dirigido pelo mestre Fukasaku. Não tem como não gostar se você é fã da Yakuza, ou simplesmente das bizarrices de Takashi Miike, inclusive é interessante notar as influências que Miike pegou através da filmografia de Fukasaku, vindo até a refilmar um outro grande filme de Fukasaku, Alugados pelo Inferno (Graveyard of Honor).

Violência: 04/05

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Crítica: “Asura: The City of Madness” (2016)

Um dos filmes mais aguardados de 2016 para esse que vos escreve, era Asura: The City of Madness dirigido por Kim Sung-su (The Warrior). O longa marca a quarta colaboração do diretor com o ator Jung Woo-sung e ainda conta com grandes nomes como Hwang Jung-min e Kwak Do-won (ambos trabalharam juntos em O Lamento).

A fim de pagar as despesas médicas de sua esposa diagnosticada com câncer terminal, o detetive Han Do-kyung age fora dos eixos, trabalhando atualmente para o prefeito da cidade de Annam: Park Sung-bae, que é ainda mais corrupto! Park quer impulsionar um contrato de desenvolvimento que transformará as favelas da cidade em moradias modernas e lhe dará milhões no processo. Para fazê-lo, ele está disposto a ir a qualquer extremo, com Han sendo aquele que cuida do “trabalho sujo”.

Embora todo o contexto de policial corrupto que trabalha fazendo o trabalho sujo pra alguém não seja algo novo, já tendo sido abordado em ótimos filmes, ASURA pega esse contexto e o aborda de uma forma um tanto quanto original, expandindo a gama de personagens envolvidos na pilantragem e dando tempo em tela para esses personagens serem desenvolvidos, se aprofundando muito bem em toda uma rede de corrupção existente ao redor de Park Sung-bae.

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A obra é taxada de “Drama criminal de ação”, embora o filme contenha elementos de ação, ele não é uma obra que se enquadre no gênero. Apenas ‘drama criminal’, é algo mais certo para generalizar ASURA. São muitos os momentos com tom dramático e muitos, muitos diálogos, o que poderá frustrar os que estão no clima para uma boa ação, mas isso não significa que ASURA seja um filme parado, longe disso, o diretor Kim Sung-su fez um ótimo trabalho em criar um clima constante de tensão com diálogos afiados entre os personagens. Todas cenas contribuem para o andamento do longa, que tem duração aprox. de 2h 12min.

As sequências de ação são muito bem feitas, mesclando um ótimo trabalho de câmera com a presença modesta de um CGI de ponta. Kim Sung-soo conseguiu criar um universo crível onde ninguém é decente, todos os personagens em tela estão ligados ao submundo do crime de alguma forma. O prefeito de Annam, Park Sung-bae, talvez seja o mais corrupto de todos, o personagem é muito bem retratado pelo sempre ótimo Hwang Jung-min. Um verdadeiro gangster, pois além de suas conexões com o submundo, Park ainda age como um grande líder de um sindicato criminoso.

Infelizmente, grande parte do contexto político-social retratado em ASURA se perde quando apresentado para um público ocidental, que não está a par da situação política da Coreia do Sul, onde polêmicas de corrupção de políticos são constantes, e esses políticos sempre são apoiados pela polícia. Essa situação delicada na Coreia do Sul é retratada de várias formas em vários filmes daquele país (o excelente INSIDE MEN é outro grande filme que aborda esse tema).
Se você prestar atenção aos detalhes e todo o contexto da cidade fictícia de Anaam verá o retrato desse problema social retratado de uma forma bem legal.

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E sobre a violência? Bom, ASURA é um filme violento! O sangue, embora não seja muito constante na primeira metade do filme, sempre que aparece, é de forma visceral. O diretor Kim Sung-su optou por um tom claro na paleta, isso é normal para obras com bastante presença de sangue. Seja por questões estéticas ou até mesmo para se adequar ao tom à se ser expresso no filme. Se no início ou no meio do filme você se perguntar o por quê da escolha da paleta mais clara, uma vez que a violência não é extrema, espere até chegar o clímax. ASURA tem o clímax mais sangrento de 2016!

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Assim como muitos filmes abordados aqui no Oriente Extremo, ASURA não é um filme para todos, violento, sombrio, sujo e com muitos personagens complexos, e seu contexto político-social não só afasta ainda mais o público mainstream como também pode confundir a real mensagem do filme!

Mesmo um entretenimento de nicho aqui no ocidente, é altamente recomendável para todos dispostos a embarcar em uma jornada na cidade fictícia de Annam onde todos são criminosos em potencial!

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Violência: 04/05

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O modesto retorno dos filmes de ação!

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Se você é fã de ação e cresceu no fim dos anos 90 e início dos anos 2000, com certeza conhece nomes como Jackie Chan, Jet Li, Stallone, Arnold Schwarzenegger, o falecido Bruce Lee e muitos outros! Todos esse nomes figuravam nas locadoras quando você ia para a seleção de filmes de ação. Com o passar dos anos, esses nomes foram perdendo espaço mas seus trabalhos continuam referências até os dias atuais. Me lembro que no fim dos anos 90, sempre que o Van Damme lançava um novo filme, havia fila nas locadoras para alugar um VHS dele, além disso até os filme mais antigos como Dragão Branco (Bloodsport) e Duplo Impacto (Double Impact), filmes relativamente antigos do Van Damme já naquela época, ainda eram difíceis de se encontrar em disponibilidade no fim de semana além de é claro, terem espaços constantemente nas emissoras de canal aberto brasileiro.
Com o fim das locadoras e com Hollywood deixando toda a qualidade da pancadaria para traz (como eu já comentei aqui), os filmes de ação perderam de vez o espaço no meio do público, e apenas os mais devotos continuaram seguindo o cenário da pancadaria cinematográfica.
Nos últimos quatro anos ou mais, os filmes de ação americanos tendem a ser grandes produções conhecidas como Blockbusters, Triple A (AAA), filmes de orçamentos exuberantes que geralmente giram em torno de catástrofes apocalípticas, Transformers, super heróis e muito, muito CGI. No meio de tudo isso, a ação verdadeira se resumiu ao mercado de lançamentos direto para Home Video, que, pelo menos na América do Norte e Europa consegue se manter, em quanto no Brasil é apenas um mercado de nicho!
Em meio a todo esse CGI tivemos poucas obras que fizesse jus ao gênero como o recente Mad Max: Estrada da Fúria, e apesar de ser mais ficção do que ação, o ótimo A Origem (Inception) também figura dentro do gênero. Esse é o cenário mainstream do cinema ‘hollywoodiano’ atual! No circuito B/Home Video, o cenário já é um pouco mais satisfatório e alguns deles serão mencionados aqui!
Se você sente falta dos orçamentos moderados, com astros regulares do cenário que se resumiam a humano vs humano que figurava com outros sub-gêneros como os thrillers e o humor, sem super poderes e fantasia! Bem-vindo, você faz parte do nicho!
Porém, lentamente, esses filmes estão voltando à ter destaque no cenário mainstream americano, inclusive os filmes asiáticos que estão voltando a ter a merecida atenção, como The Raid que fez carreira na América. Isso nos leva à primeira franquia de filmes americano com uma considerável ‘fanbase’ que quero comentar: O IMBATÍVEL! Os filmes estrelados pelo ator Scott Adkins são uma grande adição ao gênero e mesmo em um circuito fechado como o Home Video os filmes vem levantando uma legião de fãs mundo a fora, isso eleva o grau de produções que o ator Scott Adkins poderá participar no futuro mesmo sem se desligar do circuito B. Parte desse sucesso se deve é claro, ao fato de termos lutadores de verdade na frente das câmeras e produtores que sabem o que estão fazendo atrás das câmeras! Diferente de Jason Statham por exemplo, que é outro ator que cresceu de uns anos para cá, Scott Adkins não depende de edições rápidas e cortes pois o ator tem conhecimento em artes marciais e nos entrega o que queremos ver: Ação!
Diante disso, temos outro exemplo de franquia de filmes, dessa vez, fazendo carreira até mesmo no Brasil. John Wick! Apaixonados pela ação, com certeza estiveram no cinema para conferir a segunda parte da franquia no início do ano e com toda a certeza, saíram satisfeitos com o que foi apresentado! John Wick Chapter 2 não só é um dos melhores filmes de ação americanos do século como também é uma das experiências mais divertidas que você terá com filmes atuais. Mas vamos deixar John Wick um pouco de lado por hora, pois quero fazer uma análise mais detalhada da franquia estrelado por Keanu Reeves em uma outra oportunidade.
Vamos voltar à atual situação dos filmes de ação, mas dessa vez, cruzar o oceano e ir para a Ásia! Quem nunca ouviu frases do tipo: “Filmes bons são só os americanos, o resto é LIXO”. Bom, eu já, e muitas vezes! Inclusive ainda ouço tais lamentáveis e ignorantes opiniões até hoje. Tais pessoas nunca irão desfrutar de ótimos filmes recentes como o drama A Criada, o terror atmosférico O Lamento, os gangsters de Outrage e Election além de é claro, ótimos filmes de ação como: O Grande Mestre, Assassino Profissional, Asura, clássicos como Fist of Legend e até mesmo o grande The Raid (Operação Invasão). Quero abordar todos esses filmes futuramente de forma individual pois todos merecem a devida atenção aos detalhes. O fato é que filmes de ação, nunca deixaram de ser produzidos lá do outro lado do mundo, muito pelo contrário, temos astros a todo vapor como Donnie Yen, Tiger Chan, Iko Uwais e claro que astros como Jackie Chan e Tony Jaa ainda continuam na ativa, pouco a pouco reconquistando os fãs desse lado do mundo com suas produções sinceras e bem feitas. Boa parte do reconhecimento de alguns filmes em específico, deve-se ao Netflix. Com a morte das locadoras, o estabelecimento das TVs a cabo e a ascensão do Netflix temos agora um bom acervo, que de pouco em pouco começa a adquirir a atenção que merece. O Grande Mestre, Assassino Profissional, Operação Chromite, Snowpierce, Oldboy e muitas outras grandes produções estão em cartaz na plataforma de streaming. Ainda temos OKJA do diretor Bong Joon Ho vindo no fim do mês com o selo de um filme original Netflix, que inclusive foi exibido no Festival de Cannes desse ano.
Alguns grandes filmes Sul Coreanos exibidos de vez em quando pelos canais SPACE e MAXPRIME e até alguns filmes fazendo carreira nacional como o hit INVASÃO ZUMBI!
Espero que filmes asiáticos continuem a fazer seu retorno para essas bandas e a ter mais destaques nas Américas, pois qualidade não falta… e quanto ao cenário hollywoodiano, espero que John Wick nos leve de volta as produções de ação como realmente deveriam ser!