Dirigido pelo mestre da violência estética Kinji Fukasaku, Street Mobster é um filme de 1968 que marca uma das colaborações entre o ator Bunta Sugawara e o diretor, parceria que viria a ser reprisada inúmeras vezes, tendo seu ápice já no ano seguinte com o início da saga “Os Documentos da Yakuza”, um dos grandes marcos não só do Cinema Yakuza, mas do Cinema Japonês em geral.
Street Mobster é um daqueles filmes do chamado Jitsuroku eiga , que diferente do Ninkyo eiga, retratava a Yakuza no Japão pós-guerra, não como gangster glamorosos que seguiam o Bushido (código de honra do samurai) mas como gangster sem regras, sem limites, que viviam nos subúrbios e perseguiam o seu próprio desejo.
O filme já começa nos mostrando de perto muitas das atrocidades cometidas por um grupo de gangsters rebeldes que fazem uso da violência no seu dia a dia de forma trivial, inclusive a câmera de Fukasaku é essencial para nos jogar direto na ação. Fukasaku tem um jeito bem autoral de filmar, em forma de documentário, com ângulos diferenciados do tradicional.
Bunta Sugawara parece ter nascido para os papeis de gangsters de baixo nível, tanto que o ator reprisou personagens semelhantes inúmeras vezes em sua carreira, mas o destaque de Street Mobster fica com Noboru Andô. Se Bunta nasceu para ser o gangster low level, Noboru nasceu para ser o gangster glamoroso dos anos 70!
O ator possui uma presença invejável, é só ele passar pela porta, que o ator rouba toda a cena. Talvez toda a presença de gangster, se deva ao fato de que Noburo foi um Yakuza na vida real, muito antes de ser um ator!
Dois anos depois, em 1974, Noboru Andô viria reprisar o papel de BOSS, em um trabalho que também reuniria Bunta Sugawara, o filme em questão é Violent Streets (também conhecido como Violent City), dirigido por um dos melhores diretores de samurai, e um dos meus diretores favoritos: O mestre Hideo Gosha!
A violência em Violent Mobster é tão marcante quanto em outros grandes trabalhos de Fukasaku, talvez um dos diretores mais violentos do Cinema Yakuza.
A sinopse, sem adiantar muito, é a seguinte: Isamu Okita (Bunta Sugawara), um punk de baixo nível, se une à outros gangsters de rua para tomar um território pequeno, para chamar de seu. Porém as coisas saem do controle e entre a vida e a morte, Isamu se vê sem escolhas, a não ser entrar para a gangue de Yato (Noboru Andô), um respeitado chefe local da Yakuza. O filme ainda conta com muitos outros personagens, mas como é uma obra curtinha, de apenas uma hora e meia, não quero adiantar muito os outros personagens para não estragar a experiência.
Se você nunca viu um filme da Yakuza, talvez Street Mobster não seja a melhor porta de entrada, uma vez que esse Jitsuroku eiga é extremo em vários níveis. Como estamos falando de Kinji Fukasaku, não preciso frisar que o filme é ultra violento. A paleta de cores não diferencia muito dos outros trabalhos do diretor, e a história contém um desfecho satisfatório, de acordo com a mensagem que o filme quer lhe passar.
Todo o ódio de Isamu talvez seja incompreensível para algumas pessoas, afinal o filme já nos joga em meio à toda essa confusão mas para aqueles por dentro do contexto histórico do Japão na época em que o filme se passa, todo esse ódio será compreendido.
Por tanto, uma rápida pesquisa para se situar será muito bem vinda.
Street Mobster é doentio, violento e muito bem dirigido pelo mestre Fukasaku. Não tem como não gostar se você é fã da Yakuza, ou simplesmente das bizarrices de Takashi Miike, inclusive é interessante notar as influências que Miike pegou através da filmografia de Fukasaku, vindo até a refilmar um outro grande filme de Fukasaku, Alugados pelo Inferno (Graveyard of Honor).
Violência: 04/05
Nota Final: 04/05